31 de outubro de 2012

As saudades que eu já tinha de uma boa querela futebolístico-literária

Sendo eu uma autoridade em matéria de literatura e de futebolistas universalmente conhecidos pela sua inaptidão para se colocarem perante umas misteriosas máquinas que, à época, ainda nos obrigavam a esperar uma semana até podermos ver o resultado do disparo, tenho a declarar ao alf, aos amigos do alf e às gajas que lhe lêem o blog, que devem ser mais ou menos as mesmas que me lêem a mim, porque elas topam a milhas que a virilidade se revela em matéria literária, facto que eu tive oportunidade de atestar há muitos anos quando um professor de Português mandou umas piadas a um escritor meu parente afastado e eu armei um granel na aula que me valeu uma suspensão de um dia mas com a honra da família bem defendida. Dizia eu, tenho a declarar que é com arrogante certeza que classifico a obra do Lobo Antunes como fraquinha e o Vítor Paneira como um centro campista muito aquém do seu mais ou menos contemporâneo António Oliveira, esse mesmo, o Oliveirinha que um dia disse que às vezes "tinha vontade de pegar numa G3 e foder 4 ou 5", frase que só não alcançou mais notoriedade nos meandros técnico-tácticos da literatura por ter sido dita em off, que é quando os jornalistas dizem às pessoas que elas podem revelar o que lhes apetece porque eles não irão publicar o nome delas.


Na minha adolescência, nos intervalos de jogar golfe, de levar tampas de algumas miúdas e de andar pelas ruas da cidade a fazer percursos de turismo cultural com a Juve Leo, dediquei-me a uma tarefa enriquecedora da minha personalidade, sobretudo a nível técnico, que consistiu na leitura quase integral das obras de Vergílio Ferreira e de Ruben A. Passo ao lado dessa treta da coincidência com o alf: estou quase certo que o que me levou a ler bastante Vergílio Ferreira não deve ter sido o mesmo que levou o alf a isso e, se foi, que se lixe, porque essa coincidência é mais do foro daquelas gajas que perdem tempo com esses métodos de associação livre, psicologia ou sociologia, acho que é o nome que elas dão a essas merdas. Pois bem, essas minhas ocupações não me deixaram tempo livre para me inteirar da obra de Lobo Antunes, tendo apenas lido Os Cus de Judas, livro que passou pela minha vida com a mesma irrelevância com que o Peter Eskilsson passou pelo Sporting nessa mesma década.


Mas é para ocasiões como esta que os nossos skills interpretativos servem: essa obra antuniana, sendo ainda do seu período de juventude, que eu traduziria como a época em que o gajo andava a disparar para muitos sítios para ver se acertava nalguma coisa, é uma obra que já revelava aquilo que o autor viria a ser na maturidade: um gajo que tem alguns bons títulos mas que escreve maus livros. Creio que o facto de a minha argumentação sobre a pouca qualidade da obra antuniana ser escassa, é motivo suficiente para encerrar o assunto a meu favor: só argumenta muito quem não está certo das suas razões.

Sobre o Vítor Paneira recorro ao meu eficiente 4-4-2 que consiste no fundo em não dar relevância aos argumentos dos outros mas sempre com um dos centrais um pouco mais avançado a servir como uma espécie de trinco. Como estou extremamente bem disposto com a humanidade derivado a..., contesto ainda mais um dos postulados do ensaio alfiano, nomeadamente aquele ponto em que ele atira com aquela jigajoga dos passos à frente e atrás e mistura Platão com S. Agostinho e Rousseau. Pois bem, de acordo que depois de Platão pouco se avançou – não sei bem para onde mas isso agora não interessa – mas fosga-se, falar nesse pateta do Rousseau como um dos que deu um saltinho... não lembra ao careca, caralho, e com esta não te empertigues porque eu nem sei se tens cabelo ou não. S. Agostinho ainda dou de barato, agora o Rousseau, vai-te catar. Percebo que não queiras por aí na lista um alemão, mas trata de arranjar outro porque esse francês idealista e um bocadinho choné, não convence. Se queres saber a minha opinião (e eu acho que queres), eu punha o Hegel, não por ter um corte de cabelo parecido com o da Ana Sá Lopes, mas porque sim. E o espalha-brasas do Nietzsche também ficaria bem nesse retrato, mas tudo bem, essa espécie de ranking não me diz muito e por isso não vou queimar aqui os meus cartuchos.


E é de propósito que deixo para o fim o plot, a afirmação indesmentível, o aforismo incontestável, a frase lapidar: o Ruben A. é o melhor escritor português do séc. XX. Afirma o Capt. Paddock e tal facto não merece contestação. Ainda assim, se alguém se sentir motivado, por desconhecimento ou falta de auto-estima, a contestar este meu decreto, digo-vos que arranjo tempo para um duelo. A marcação do campo e as testemunhas ficam por conta do desafiador. E à bengalada, não só como homenagem ao Eça, mas também porque nunca me ajeitei muito bem com armas de fogo.

30 de outubro de 2012

Brochista, brocheiro ou brochador? Nem sempre tenho um tesauro à mão


Fernando Ulrich, um ser humano atento aos problemas dos desempregados, que se disponibiliza a mantê-los ocupados, trabalhando no seu banco à borla, para não ficarem em casa a andar às voltas e a deprimir.

28 de outubro de 2012

Gajas infodíveis com óculos horríveis



Uma das castas mais patéticas das sociedades ocidentais é o mundo da moda. É constituído por um conjunto de pessoas que se caracterizam por não fazerem a mínima ideia do que seja o ridículo, bem como não possuírem espelho lá em casa. Funcionam em curto-circuito, todos muito amigos, muito chegados, muito colegas, muito próximos uns dos outros, sendo essa a forma de legitimarem as porcarias que fazem para as pessoas que também querem fazer parte da casta poderem vestir. Modelos agarradinhas, paneleiros histriónicos, organizadoras de desfiles (as tais infodíveis de óculos horríveis), entre outros inenarráveis exemplares, compõem uma fauna que atesta as piores impressões que possamos ter da espécie humana. Este ano há saldos?

25 de outubro de 2012

O que vale é que isto é pela net, de outro modo acho que mandava para o estaleiro um gajo que viesse com esta conversa



Diz que posso utilizar tags HTML , nomeadamente B, I e A, mas para que me servem as tags se a única Bia que conheço está bem arrumadinha na vida e não quer nada comigo (e eu também não quero nada com ela, garanto-vos). Depois tenho que provar que não sou um robô, assim com acento circunflexo no o. Foda-se, mas não se vê? Que cena é esta de chegar ao pé de um gajo e pedir para ele provar que não é um robô? Brincadeira de parvos, só pode. E não acaba aqui: pedem-me para escrever duas palavras. Mas eu só vejo uma: dersoadm, que para mim nem é palavra. Mas vou colaborar, escrevo duas palavras: pó caralho. Já está. Serve? Parece que não, agora tenho que seleccionar uma identidade. Uma só? Era o que mais faltava; primeiro não seria capaz de seleccionar, segundo, gosto de ter várias, nem imaginam o jeito que isso me dá em muitas ocasiões.

20 de outubro de 2012

Um tratado político com imagens giríssimas para compensar o excesso de letras


Parece que algumas das pessoas que por cá ainda se atrevem a tentar a difícil e perigosa actividade de utilizar a cabeça para pensar, começam a chegar à conclusão de que o sistema político saído do pós-25 de Abril e consolidado nos anos seguintes, atingiu idade suficiente para poder ser questionado de modo a que se perceba o que serve e deve continuar e o que não serve e deve ser alterado. Se quiserem, podem chamar a isso uma reforma do sistema político, por mim tanto faz. A objecção que coloco é que a maioria dessas pessoas, quando falam de reforma do sistema político, estão a referir-se a pormenores como o número de deputados e a possibilidade de candidatos independentes às câmaras municipais, por exemplo. E, uma reforma do sistema político que tenha interesse e possa servir para alguma coisa, está muito para lá do número de deputados e dos candidatos independentes. Reparem na genialidade ao contrário de António José Seguro, que na semana em que as pessoas percebem que o governo de coligação estava em risco de queda e que a assistência financeira a Portugal poderia ficar em causa gerando uma crise politica ainda maior, utilizou a sua redonda cabeça, cuja única utilidade perceptível é a de ser suporte para pendurar os óculos, e avançou com uma medida “importantíssima” como a redução do número de deputados. Tudo aquilo que as pessoas queriam ouvir naquela semana, não é?

Fazendo uso da minha solidariedade intelectual, deixo aqui uma primeira leitura para os interessados. No caso, um livro que nos mostra muitos dos problemas e dificuldades de um sistema político fundamentalmente assente em partidos, nas sociedades contemporâneas e que, de seguida, avança alguns dos caminhos a trilhar e soluções a testar. Digo isto porque Portugal é um dos países onde mais se evidencia esta situação de crise do sistema político-partidário, o que se manifesta na evidência que qualquer comum mortal consegue sintetizar na máxima: “os partidos são todos iguais”. Os partidos não são todos iguais mas quando as pessoas dão por si a desejar que esta coligação Passos-Portas condimentada com a presença de Gaspar, Relvas e Cristas, não caia porque, do outro lado, em fila de espera, está António José Seguro e a sua inflamada importância, só pode dar mesmo para as pessoas apregoarem que “eles são todos iguais”, fazendo uso da cartilha taxista-salazarista. O livro é este.



Não sendo meu objectivo avançar com soluções (que nem sei se tenho), pois é para isso que devem ocupar o vosso tempo a ler e a investigar sobre as coisas, não vou ao Aki comprar parafusos e cola de contacto sem antes partilhar convosco uma das questões que por esse mundo fora, onde há pessoas que pensam nas coisas e se estuda ciência politica a sério, o tema é tratado. Tema que em poucas palavras poderíamos definir como o da banalização do estatuto das classes políticas.



Passando a explicar. Muita gente puxa logo do revólver antes de perceber de que é que se está a falar quando se está a falar de elites. Torcem o nariz porque ainda têm a cabeça encharcada pela propaganda marxista, e não só, que desde sempre atribuiu ao conceito de elite uma conotação negativa, associando-o a aristocracias balofas, sistemas de castas e oligarquias do género. Mas o conceito de elite não é isso. Ou melhor, pode ser muito mais do que isso. Que diria o mais militante dos anti-elitistas se o Paulo Bento, na próxima convocatória, convocasse o Medina Carreira para guarda-redes? Diriam que o gajo estava doido e diriam bem. Mesmo que o Medina Carreira dissesse que se ia esforçar porque toda a sua vida tinha feito isso, estudando e tentando conhecer, como faz sempre. Isso não bastaria para que o episódio não deixasse de se tornar uma anedota. Pois bem. Mas quando Assunção Cristas foi empossada Ministra da Agricultura e de mais umas coisas e afirmou em entrevista que não entendia nada de agricultura mas que ia estudar e dedicar-se aos dossiers, “graças a Deus”, poucos acharam essa nomeação uma patetice digna de riso e/ou indignação. Como é que é? Vais para ministra da agricultura e dizes que agora é que vais estudar os assuntos? Então o ministério da agricultura é um centro de estágios? Assunção Cristas, como ministra da agricultura, é a mesma coisa que o Medina Carreira na baliza da selecção.





O que acontece é que para se ser piloto de aviões, futebolista profissional, operador de call-center para resolução de problemas de acesso à internet, ainda é preciso ter conhecimentos e fazer prova disso com vista à função que se vai desempenhar, ou seja, é necessário fazer parte da elite dos que são capazes para essa tarefa. Para se ser ministro, por exemplo, nada disso é preciso, saltando os ministros de ministério em ministério como se percebessem dos assuntos todos (o que mostra que não percebem de nenhum). A isto podemos chamar de banalização: o alinhamento não é feito pela excelência, como numa elite, mas pela incapacidade e indiferença pela função. Como na escolha de um governo que por cá existiu em que a distribuição foi feita por quotas, permitindo que a Dona Teresa Caeiro saísse de casa a pensar que ia tomar posse na Secretaria de Estado da Cultura e acabasse a tomar posse, umas horas mais tarde, no Ministério da Defesa. Uma perguntinha: se toda a gente está de acordo que para se jogar na selecção só uma elite – sim, uma elite – de indivíduos é que é elegível, porque é que essas mesmas pessoas se empertigam todas quando alguém afirma que para governar um país só uma elite deveria poder ser capaz? Um dos problemas do actual sistema politico é a banalização das elites, como poderão ficar a saber se lerem este livrinho que contém análises de caso suficientes, muito bem detalhadas sobre como a tal democracia nem sempre é tão “democrática” quanto se pensa.




A selecção é uma elite: nem todos lá podem jogar e ninguém se lembra de dizer que isso é antidemocrático. As competências e capacidades podem ser intelectuais, de trabalho ou físicas. Só gajas boas e altas podem ser modelos e ainda bem que é assim: são uma elite. Que me ingressa que seja burras: sabem despir-se e caminhar porque é isso que lhes exigem. Para cada actividade há um conjunto de competências e capacidades que levam a pessoa a destacar-se. Para se ser escritor é preciso ser capaz de escrever, para se ser músico é preciso ser-se capaz de tocar, para se ser bailarino é preciso saber-se dançar. Nem toda a gente pode ser primeiro ministro como nem toda a gente pode ser modelo. Mas o que acontece é que hoje quase qualquer um pode ser ministro, sem o mínimo de competências exigíveis para se exercer o cargo. E aí estão os Passos e os Relvas. Tipos que numa sociedade verdadeiramente democrática nunca fariam parte da elite de potenciais ministros, fosse do que fosse. Pois então se há elites para a bola e para a música, porque é que não há, por exemplo, para cargos políticos, cargos de nomeação do estado e cargos em empresas dependentes do estado? Vêm outra vez com a ladainha da democracia, porque não percebem que a ladainha da igualdade de oportunidades tem consequências antidemocráticas, como vermos Miguel Relvas ministro, seja do que for. Ou vermos o Fernando Seara, candidato a todas as merdas onde dá para se ser candidato porque aquilo de que ele mais gosta na vida é ser candidato, uma vez que isso dá para aparecer na televisão mais uns minutos.

Desenganem-se se pensam que isto é só em Portugal. Um argumento tão forte para a prova da existência de Deus, como o argumento ontológico de Sto. Anselmo, é o facto de a Alemanha do Hegel e da Mercedes também ter dado ao mundo os Modern Talking e a Ângela Merkel.




E em França as coisas não correm pelo melhor. O case-study Nicolas Sarkozy, um gajo que aparecia sempre com aquele ar “ça va, desta já me safei, ufff...” e dava a impressão de que só tinha sabido 5 minutos antes de que se tratava a reunião ou a conferência a que chegava montado nos seus sapatos à Prince, com 5 centímetros de salto. Como já tive oportunidade de esclarecer noutros fóruns, a republique teria ganho muito se alguém tivesse pegado na viola da mulher do Nicolas e a tivesse partido nas trombas do próprio Nicolas: o gajo ficava quieto e a esposa não cantaria durante uns tempos, factos indiscutivelmente proveitosos para o bem da humanidade.




Este anti-elitismo militante que se traduziu no virtual acesso de todos a todo o lado, é péssimo, se querem assim uma espécie de conclusão simples e directa. Mal se diga que uma pessoa sem currículo, competências e conhecimentos, moradora em Massamá ou no rio que a parta, não deveria poder governar um país, vêm logo com a conversa bacoca do elitismo. Pois então fiquem lá com a vossa democracia do "todos capazes de tudo". Ainda há muita treta para o Seara se candidatar e muita pasta para o Relvas tutelar. E não vou ser eu o reaça que lhes vai machucar a vaidade. Divirtam-se que eu tenho que ir ao Aki antes que se faça tarde.

18 de outubro de 2012

Não sei se isto é brutal ou colossal; deixo ao critério dos economistas, os novos tudólogos do parque de diversões


Jacques-Louis David - Le Serment des Oraces, 1784


Gosto do ambiente de fim de festa. Gosto de ficar quando toda gente já se foi embora e posso estar ali em silêncio. Posso olhar para o que resta e imaginar as histórias que por ali se passaram, ou não. Gosto de sítios abandonados, o que não é a mesma coisa que sítios onde nunca ninguém esteve. Nos sítios abandonados houve gente que por ali passou e agora já não está. Não é nostalgia, saudade, perda ou outro sentimento afim. Passam-me ao lado essas filosofias da saudade. É o tempo, é sempre o tempo que nos confronta; a passagem do tempo é uma violência. Das merdas mais duras que uma pessoa tem que suportar na vida.

Por isso, mas não só, estas propostas de Bence Hadju, a que chamou de pinturas abandonadas, me parecem interessantes. É o tempo, sempre o tempo.

14 de outubro de 2012

Sou muito bom a dar títulos mas há quem ainda seja melhor do que eu

It's Allright, tema do fantástico álbum Taking Drugs to Make Music to Take Drugs to, dos geniais Spacemen 3, banda para a qual toda a adjectivação elogiosa será sempre insuficiente face à sua suprema grandeza.

Eu era um verdadeiro Aquilino Ribeiro do salão de jogos


O Ex- V. P., comentador residente da Causa Foi Modificada, actualmente em crise comentatória derivada a factos, avançou com um ensaio que, não fosse a incapacidade dos intelectuais portugueses para se focarem no essencial, seria o tema mais comentado do momento, em vez da chamada do Nelson à selecção (é aquele que jogava no Benfica? porreiro para ele), ou em vez das 18 horas e 34 minutos que couberam ao ministro das finanças numa reunião do conselho de ministros que demorou um total de 20. As pessoas não se preocupam com o essencial. E quem fica a perder nem são as pessoas, é o essencial, teorema que eu poderei vir a desenvolver numa próxima oportunidade, mas só se me apetecer.

E porque é que invoco aqui o Poursan? Porque produziu um ensaio no qual utilizou as palavras “escaganifobeticamente” e “desopilante”. Como se isso não fosse motivo de sobra, ainda falou de mim. A utilização destes dois termos - diria mesmo que se trata de conceitos - que eu, em tempos, tão bem soube utilizar e cuja leitura que hoje fiz, me despoletou um clique nos cornos que me remeteu num ápice aos meus tempos dos cromos da Panini, a época da minha vida onde dei início à minha actividade de empreendedor, nomeadamente, investindo uma quantidade apreciável de moedas em máquinas de flippers, nascendo aí a minha aptidão para lidar com dinheiro, nem sempre da melhor maneira, aptidão essa cada vez mais colocada em causa pelo facto de ser contribuinte num país que tem um ministro das finanças que ainda consegue demorar mais tempo a perceber aquilo que faz do que a falar daquilo que não percebe. Desculpem lá o tamanho da frase mas um gajo lê o alf e fica assim numa de frases longas (já agora, registe-se que o alf domina a técnica muito bem). Voltando ao preciosismo linguístico do Poursan, que é para isso que eu vinha preparado, só Deus sabe como eu utilizava de forma magistral esses dois termos. Não era qualquer coisa esquisita que era escaganifobética, nem era um chato qualquer que mandava desopilar. Era preciso saber falar, ter conhecimento dos assuntos, perceber as circunstâncias, para se utilizar esses termos correctamente. Mandar para o caralho, ontem como hoje, qualquer um manda. Mas isso pouco importa. O que interessa é que, apenas com estas duas palavras, deu para ver que o Poursan é um brother in arms, (sem qualquer referência aos Dire Straits, banda que sempre me irritou).

13 de outubro de 2012

E qual é a parte que me cabe?


A Academia Sueca deu um Nobel à Europa. Foi o da paz mas podia ter sido outro qualquer. Dar um prémio à Europa significa não o dar a ninguém, o que até percebo bem, dada a falta de candidatos elegíveis para a medalha. A continuar assim, de futuro a ausência de candidatos continuará. E por isso deixo já uma sugestão para as eminências suecas: no próximo ano atribuam-no ao planeta terra: é habitado por gente tão, tão, tão boa.

11 de outubro de 2012

É no registo civil que começa a carreira de um grande escritor


Não foi por acaso que os pais do Franz Kafka, do Samuel Beckett e do James Joyce lhes deram esses nomes. Eles sabiam a importância que os seu filhos iriam ter na história da literatura, só podia. São nomes grandes, fortes, directos, nomes apropriados para escritores de excepção. Agora, um gajo chamar-se Mo Yan, não dá com nada. Até pode ser legível, mas com esse nome nunca terá lugar no panteão. Vejam a Wisława Szymborska, coitada, poetisa interessante mas que passou ao lado de uma grande carreira por causa do nome, apesar de ter recebido o Nobel. Aliás, os nomes polacos são o que de mais anti-literário existe. O único aceitável é o do Lato que não é escritor, foi futebolista, mas para o caso pouco importa. O próprio Cristiano Ronaldo, se em vez de ter este nome bimbo, tivesse um apelido com duas vogais (podia ser o E e o I), e três consoantes (podia ser o M e o S), ganharia seguramente mais prémios do que aqueles que ganha. Já agora, que estou com as mãos na massa, deixo uma dica ao António Lobo Antunes: estás fodido com esse nome. É complicado, longo e de sonoridade desinteressante. Olha para o nome do José Saramago, eu sei que nem podes ouvir falar nele, mas deixa-te de merdas, é um nome muito mais nobelizável do que o teu.

Receita para 1 hora e tal daquela sensação, como dizer, assim, pronto, um gajo sentir-se bem e não pensar muito nas coisas

Ingredientes:

-Automóvel confortável que possua um bom isolamento de som;

-Depósito atestado;

-Sistema de som instalado no carro com, pelo menos, 70 watts por canal;

-Carta de condução (se não tiver, basta apenas saber conduzir);

-CD do último disco dos Beach House, Bloom (MP3 a menos de 320 kbps não é bem a mesma coisa).


Modo de preparação:

Aguarde pelas 00:30, entre dentro do carro, ponha-o a trabalhar e tenha à mão o CD dos Beach House. Dirija-se à estrada marginal Lisboa-Cascais. Quando chegar à zona de Algés, ponha o CD a tocar com o volume bem alto, mantendo as janelas fechadas para não ouvir perturbações do exterior. Vá até Cascais a uma velocidade média de 50km/hora. Quando chegar ao Jumbo de Cascais, volte para trás e faça o percurso inverso. De novo em Algés, volte para Cascais. Se o CD entretanto terminar, volte à faixa 1. Regresse a casa e tenha o cuidado de não ligar a televisão. Leia antes de dormir mas apenas coisas de alguém que já tenha morrido, pelo menos, há 50 anos.

9 de outubro de 2012

Nem todos os guionistas portugueses são assim tão maus e desprovidos de humor



Só mesmo apelando à ingenuidade, quer dos que a têm as molhos, quer dos que dela nada possuem, é que é possível fazer alguém acreditar que um protocolo que tinha por missão preparar as comemorações do 5 de Outubro, não conseguiu evitar a repetição - em medíocre - de uma cena de um filme de Fellini, onde só faltou mesmo aparecer uma velha gorda a mostrar as mamas para o remake ser fiel. Com segurança reforçada, com barreiras montadas pela polícia a 500 mt., com polícias fardados e à paisana em todos os cantos, há uma senhora que entra dentro da sala onde o PR discursa e desata a proferir insultos e a bater com a mala em quem se aproximava. Enquanto outra senhora, uns metros ao lado, ia cantando canções supostamente revolucionárias, que eu só soube tratar-se de tal quando li no jornal o guião da cena, porque quando ouvi pela primeira vez, supus tratar-se da mesma técnica vocal da Liz Frazer nos primeiros discos dos Cocteau Twins, mas aqui em mau. A cantora lá foi cantando Lopes Graça para perturbar os discursos, recebendo até aplausos dos sentados nas cadeiras, convidados precisamente para bater palmas e quanto a isso nada a objectar: se um tipo é convidado para bater palmas, porque é que não havia de bater palmas? Imaginem que os reformados que são contratados para bater palmas nos problemas da Júlia ficavam quietos... eram despedidos por justa causa. Se eu fosse dado a metáforas fraquinhas, invocaria aqui a banda do Titanic que continuou a tocar enquanto o barco afundava. Mas o requinte do happening foi mais Fellini do que Cameron, ao menos valha-nos isso que o Cameron é um realizador merdoso, mesmo em tudo aquilo que fez antes do Titanic.

Estão à espera que as pessoas acreditem que todo aquele número não passou de um conjunto de acasos e falhas lamentáveis? Eu não acredito que aquilo se tenha passado sem a conivência de alguém de um dos andares lá de cima, provavelmente de alguém que estava a falar ou sentado a aplaudir. Mas mais detalhes sobre o enigma do autor do guião só depois de conhecer a teoria do omni-comentador Ricardo Costa sobre o omni-candidato António Costa, dois gajos da mesma cor do Sunnil Chetri, aquele avançado-centro que foi contratado para fazer sombra ao van Wolfswinkel e que está neste momento a fazer sombra ao Dominguez no banco do Sporting B porque são os dois da mesma altura. Um alerta àqueles que têm a mania que são perspicazes: não estou a insinuar que tenha sido António Costa a montar a cena, pela simples razão de que não acho que António Costa tivesse capacidade para tal: aquilo foi demasiado bem feito para quem não vai além da teoria parva de que um burro demora menos tempo a subir a Calçada de Carriche à hora de ponta do que um Ferrari.

Deixo aqui uma sugestão a todos aqueles jornalistas de política que têm a mania que sabem mais do que toda a gente só porque passam os dias nos corredores na Assembleia da República: deixem lá os pormenores da intriga Portas-Passos e revelem quem armou aquela cena. Sou capaz de dar os parabéns ao assumido autor do guião se ele prometer que não vai ficar por aqui.

6 de outubro de 2012

Apesar de me interessar por Ficção Científica não fui ao Congresso Democrático das Alternadeiras


Por razões que aqui não interessam, uma vez fui assistir a uma reunião de um clube de leitura, daqueles que se realizam em casa das pessoas. Cena um bocado estranha. É o que há de mais parecido com uma reunião da Tupperware. As pessoas reúnem-se na casa de uma delas, à hora marcada, não para comprar plástico, mas para falar de livros, ou melhor, daquilo que elas acham que os livros dizem sobre a vida delas, o que me parece muito bem porque também é para isso que os livros servem. Os livros servem para falar das nossas vidas, mas fazer disso tema de reunião é que já não me cheira, a menos que sejamos “profissionais da blogosfera” e tenhamos uma agenda carregada com muitos debates e lançamentos nas fnaques por esse país fora. Na dita cuja - a reunião - percebi que eu era dos poucos representantes do grupo de “gajos que não têm assim tanta certeza das coisas”. Havia uma gorda que, ainda não tinha acabado a leitura do primeiro parágrafo, já chorava porque aquilo lhe lembrava uma “coisa que se tinha passado com ela”. Um outro que chegou todo encharcado porque, disse ele, “vou para todo o lado de mota” e naquele dia estava a chover. Outro que quase nunca abriu a boca e, se isso nos poupou a audição de disparates, não deixei de me questionar o que faz um gajo que não fala, em reuniões de um clube de leitura? Havia um gay – parece que nestas coisas há sempre um gay – que em tudo via discriminação e manifestações da sociedade homofóbica, paternalista e reaccionária. Havia outra que dizia que se alimentava de livros e mais uns quantos malucos avulsos. Ao fim de umas horas, saí da nave e regressei ao meu cantinho no planeta onde habito. Continuava a chover.




Dá-nos muito jeito a capacidade que algumas pessoas têm de anunciar que o que vão dizer não interessa para nada. E quando alguém se lembra de uma história qualquer e depois sentencia com ar conclusivo uma das variantes da frase “a realidade supera a ficção” é porque estamos no mau caminho. Não sei qual é o bom caminho, valha a verdade, mas não hão-de ser os especialistas em especialismo a encerrar os assuntos só porque deles não sabem nada. Não queria que isto servisse de parábola a coisa nenhuma. Mas é convosco. Para quê perder tempo com dribles inúteis? Por 16 libras é possível deitarmos as nossas mãos a este livro que, ainda por cima, nos sugere o desafio adicional de procurarmos os bons artigos no meio daqueles que não interessam, dado tratar-se de uma colectânea cuja qualidade dos textos alterna entre o Rinaudo (A++) e o Matic (trash).

Uma homenagem à Margarida Marante que, como se vê, também entrevistou muitos idiotas ao longo da carreira e, neste caso, foi vítima de uma gralha que transformou 'Não tenho jeito para ser líder do PSD' em 'Não enjeito ser líder do PSD'


4 de outubro de 2012

Tenham calma

... estou a tratar de um assunto, não demoro muito.