6 de outubro de 2012

Apesar de me interessar por Ficção Científica não fui ao Congresso Democrático das Alternadeiras


Por razões que aqui não interessam, uma vez fui assistir a uma reunião de um clube de leitura, daqueles que se realizam em casa das pessoas. Cena um bocado estranha. É o que há de mais parecido com uma reunião da Tupperware. As pessoas reúnem-se na casa de uma delas, à hora marcada, não para comprar plástico, mas para falar de livros, ou melhor, daquilo que elas acham que os livros dizem sobre a vida delas, o que me parece muito bem porque também é para isso que os livros servem. Os livros servem para falar das nossas vidas, mas fazer disso tema de reunião é que já não me cheira, a menos que sejamos “profissionais da blogosfera” e tenhamos uma agenda carregada com muitos debates e lançamentos nas fnaques por esse país fora. Na dita cuja - a reunião - percebi que eu era dos poucos representantes do grupo de “gajos que não têm assim tanta certeza das coisas”. Havia uma gorda que, ainda não tinha acabado a leitura do primeiro parágrafo, já chorava porque aquilo lhe lembrava uma “coisa que se tinha passado com ela”. Um outro que chegou todo encharcado porque, disse ele, “vou para todo o lado de mota” e naquele dia estava a chover. Outro que quase nunca abriu a boca e, se isso nos poupou a audição de disparates, não deixei de me questionar o que faz um gajo que não fala, em reuniões de um clube de leitura? Havia um gay – parece que nestas coisas há sempre um gay – que em tudo via discriminação e manifestações da sociedade homofóbica, paternalista e reaccionária. Havia outra que dizia que se alimentava de livros e mais uns quantos malucos avulsos. Ao fim de umas horas, saí da nave e regressei ao meu cantinho no planeta onde habito. Continuava a chover.




Dá-nos muito jeito a capacidade que algumas pessoas têm de anunciar que o que vão dizer não interessa para nada. E quando alguém se lembra de uma história qualquer e depois sentencia com ar conclusivo uma das variantes da frase “a realidade supera a ficção” é porque estamos no mau caminho. Não sei qual é o bom caminho, valha a verdade, mas não hão-de ser os especialistas em especialismo a encerrar os assuntos só porque deles não sabem nada. Não queria que isto servisse de parábola a coisa nenhuma. Mas é convosco. Para quê perder tempo com dribles inúteis? Por 16 libras é possível deitarmos as nossas mãos a este livro que, ainda por cima, nos sugere o desafio adicional de procurarmos os bons artigos no meio daqueles que não interessam, dado tratar-se de uma colectânea cuja qualidade dos textos alterna entre o Rinaudo (A++) e o Matic (trash).

3 comentários:

  1. Obrigada pelo link :)

    Fui colocar o livro acima referido na minha wish list.
    e qual não é o meu espanto quando nas recomendações só vejo titulos do DFW
    ainda hoje estive a ler o texto do NYorker sobre o mesmo.

    eh eh eh



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    1. Silvia: vale a pena porque para além de contos, tem também alguns ensaios interessantes.

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  2. Estive a ler partes oferecidas pela amazon :)
    Vou ler primeiro o Lyotard :)

    Ser considerado pós na arquitectura é como um enxovalho :) algo que não se passa tanto na literatura como na música
    ninguém tem medo de ser rotulado de pós :)
    ou só será um problema de "construção" semântica :)

    bjs


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