29 de março de 2013

Afinal o TV Rural sempre regressou


Por coincidência cósmica, verificou-se o facto eu estar no Grande Auditório da FCG a assistir a isto:




e a isto:



 
à hora a que o Sócrates estava na RTP lá com aquele número de circo que, hoje, até pessoas com cérebro dedicaram tempo a analisar. Não faço a mínima do que ele disse, a não ser o que vem nos títulos dos jornais online. Mas há uma coisa que merece que eu escreva este micro-ensaio: 1,6 milhões de almas a ver aquela merda, dando de barato que pode ter sido um pouco mais ou um pouco menos.

A única coisa de relevante é a atitude dessas pessoas; isso é que merecia análise. E não é política, é analise psiquiátrica, pois só alguém completamente passado dos carretos é que aguenta aquele misto de encenação, mentira, má-educação congénita e burrice que são as entrevistas transformadas em tempos de antena do Sócrates nas televisões. Não estavam muito melhor a ver a telenovela da TVI ou outra porcaria qualquer que, comparada com Sócrates, seria certamente mais interessante?

Como afirmei já algumas vezes nas minhas obras, sou a favor da censura: acho que estudantes de mestrado em ciência política em universidades francesas devem ser censurados nas televisões - o que é ciência politica?, perguntam vocês, e perguntam bem porque ninguém com dois dedos de testa sabe o que é. Ainda por cima, àquela hora há adolescentes e crianças a ver televisão; imaginem que vêem aquilo durante alguns minutos... Assim evitavam-se males maiores.

Há uns tempos houve uns deputados que queriam o regresso do TV Rural. É isso: começou ontem com uma hora dedicada à temática do gado bovino, com entrevista e tudo,  coisa que nem o Eng. (verdadeiro engenheiro) Sousa Veloso conseguiu.

27 de março de 2013

Não sou o único filósofo apreciado pelo sector feminino, vulgo gajas

Uma amiga minha, pouco dada aos desenvolvimentos da filosofia contemporânea, perguntou-me quem era o Richard D. Precht. Um colega meu, respondi-lhe.



Tenho que vos falar mais vezes do Thomas Bernhard; lembrem-me, caso me esqueça





Antes da forma está o conteúdo. Pessoas que não têm prestado atenção à minha obra, tendem a não perceber isto. A embrulhos não ligo muito; servem-me para o que sempre serviram desde que me conheço: rasgar para ver o que está lá dentro. Tamanho 12 misturado com 14, paginação inventiva, divisão em capítulos, pontuação, minúsculas em vez maiúsculas... Para se ser escritor em Portugal, com obra publicada, está visto que é mais importante saber de design do que de literatura.

Thomas Bernhard, escrevia pelo conteúdo e não para o embrulho, mesmo que isso desse nas 516 páginas sem parágrafos de Extinção, ou numa belíssima história com tão poucas palavras como esta.



Pisa and Venice


The mayors of Pisa and Venice had agreed to scandalize visitors to their cities, who had for centuries been equally charmed by Venice and Pisa, by secretly and overnight having the tower of Pisa moved to Venice and the campanile of Venice moved to Pisa and set up there. They could not, however, keep their plan a secret, and on the very night on which they were going to have the tower of Pisa moved to Venice and the campanile of Venice moved to Pisa they were committed to the lunatic asylum, the mayor of Pisa in the nature of things to the lunatic asylum in Venice and the mayor of Venice to the lunatic asylum in Pisa. The Italian authorities were able handle the affair in complete confidentiality.

Thomas Bernhard

25 de março de 2013

O problema do recurso a clichés para fugir aos clichés (ensaio em 705 palavras)


Só um uma pessoa – provavelmente benfiquista, mas isso pouco importa - que não entende o que é o Sporting poderia ter escrito isto. Não é que o texto do maradona seja um ponto alto do comentarismo futeboleiro, ainda por cima tratando-se de um ensaísta como o maradona que já foi capaz de escrever merdas muito, mas muito mais bem esgalhadas sobre o tema. Numa tentativa de filosofar sobre a desgraça alheia (sim, nós sabemos que estamos mesmo muito mal), alf, um excelente ensaísta de cultura e até de cóltura, mas que não vai além de mediano em matéria de bola, prenda-nos com um texto exemplarmente povoado daquilo que ele pretende apontar aos outros e que eu, numa generalização abusiva, tipicamente característica do filósofo arrogante que sou, definiria como, “passar ao lado daquilo que mais interessa”. Para tal tarefa, resolve povoar o seu ensaio de banalidades de oficina ou de cabeleireiro, consoante o sexo do interveniente, a saber: que o Sporting é dos viscondes, que é de malta que habita o eixo Estoril-Guincho, que jogam golfe, e que descobriram um Messias na pessoa do empresário Bruno de Carvalho, onde nem faltou a originalíssima fotografia do leão a dormir. Enfim, a lenga-lenga do costume. Mas isso até é o menos importante, embora seja tudo mentira, à excepção do golfe: aí sim, os meus muitos anos de golfe certificam - para conforto intelectual do alf (que não é por mim que verá desfeita a sua sólida imagem deste desporto) - que usamos todos cartola, fumamos charuto e limpamos o cú a notas de 20€... mais um que não faz puto de ideia do que é o mais belo dos desportos. Também passo ao lado das citações do Kundera, que li e abandonei a meio, e do Rosseau, o mais angélico dos franceses, cujas generalidades só por obrigação acabei por ler.

O que importa é que o alf não entendeu porque é que 50 e tal por cento dos sócios do Sporting votaram no Bruno de Carvalho, uma vez que caricaturiza esses mesmos votantes, na pessoa do maradona, como se essa escolha do Bruno de Carvalho tivesse sido motivada pela crença quase religiosa de que ele poderá transformar o Sporting perdedor num Sporting ganhador como o FC Porto (o Benfica é quase tão perdedor e mais devedor do que o Sporting, mas deixá-los que eles andam todos contentes), apenas com um estalar de dedos. Ou será que os 30 gajos que apareceram na TV a gritar “allez, Bruno allez” com tochas verdes, mais o quase-lacrimejante texto do maradona, na análise do alf, simbolizam os 53% que votaram no Bruno de Carvalho?

Como votante do Bruno de Carvalho, informo-te que não foi nada disso que disseste, que me levou a votar nele. Os que conhecem a minha obra literária, bem como os que me conhecem pessoalmente, sabem que me custou pa caralho votar naquele gajo. E conheço mais uns quantos sócios do Sporting que partilham daquilo que te estou a dizer. Peço desculpa por te estragar a argumentação mas olha, é a verdade – aquilo que tu procuras, como dizes no teu header.

Facto: os sócios do Sporting tinham que escolher, é para isso que servem as eleições, e essa escolha tinha que ser feita, não havendo lugar a abstenções porque alguém iria ser eleito. Os sócios do Sporting disseram que não queriam o mesmo prato que lhes é servido há 17 anos. Demos um salto no escuro? Vamos aguardar... De outro modo teríamos dado, não um, mas uns 20 ou 30, e não era nos escuro, era no abismo, porque no escuro já nós estamos. Mais do mesmo, outra vez? Não. Foi isto que os sócios do Sporting disseram. Agora, é dar tempo ao tempo. Isto no futebol muda mais depressa do que se julga, há muito pela frente e, entre outras coisas, ainda podemos ir foder o campeonato ao Benfica (já não era a primeira vez).

Quanto a outros assuntos com importância para a humanidade em geral, como este, registo aqui a minha satisfação pelo regresso do Tiger (outro a quem já tinham feito não sei quantos funerais) ao nº 1 mundial. O desporto é tramado, sobretudo para quem tem as ideias muito arrumadinhas nas gavetas dentro da tola.

24 de março de 2013

Para o Palácio da Ajuda, em força!

Não é garantido que haja revolução. Mas parece que há lá um acontecimento, ou evento, como agora se diz. Por isso, peguem nas vossas pás, vassouras ou iPads e dirijam-se até lá; não é preciso ter convite, basta pagar bilhete.




Pela amostra, os convidados são de gabarito. Não é preciso irem vestidos como a Joana; ela veste assim porque ainda está com a máscara de carnaval; tem andado tão ocupada que nem deu conta que o carnaval já passou. Barreto Xavier, completamente fascinado a olhar para o lustre de tampões, arrisca-se a apanhar um torcicolo se não olhar para baixo.



O Costa também gosta muito de eventos para aparecer, destes em que não é preciso dizer nada de inteligente, basta estar lá, falar com umas pessoas e sorrir para a fotografia. Tirar o Seguro da cadeira é que já é mais difícil, não é, ó Costa?



Descubra as diferenças. Agora estamos na varanda e o Costa já foi debater com o Pacheco e o Lobo Xavier. Por outro lado, há imensos problemas com a camisa, o casaco e o cabelo do Portas. O que vale é que a Joana tem sempre um sorriso.



Não é em Versailles, é na Ajuda. Mas que interessa isso? Vestida daquela maneira até na Damaia a Joana brilhava.



Vamos à arte, que eu gosto muito de arte e de cultura e os leitores do meu blog também. A peça é aquela coisa amarela da esquerda, não confundam.



Cá para mim está tratado: levo uns dardos e ainda me divirto.



O piano está fechado, a Joana não vai tocar (aleluia), era só para a fotografia até porque aquilo com a renda não se deve ouvir nada de jeito, mas também não interessa, é arte. O Christo e o Beuys é que não pescam nada de pianos nem de embrulhos.



Que número é que a Joana calça? Se calhar enganou-se a tirar as medidas.



Eh pá, que é isto? Sou eu que estou a ver mal ou aquilo vem mesmo dali. E ela ri-se. Foda-se, aquilo é mesmo grande e esquisito. Nunca tinha visto nada assim. Não digo mais nada... Por mim, com esta peça, está tratado.




22 de março de 2013

Como é que se diz quando se vota por exclusão de partes? Engolir um sapo, não é?

Os fãs de Devendra Banhart, que já festejavam a minha ausência, podem tirar o cavalinho da chuva: voltei para explicar às pessoas que esse Banhart é uma bela merda, uma merda assim tão merdosa como o B Fachada, e outras merdas do género. Mas vamos começar pelo princípio; sou um gajo organizado.


Os dois factos mais marcantes da minha vida no início da década de 90 foram 1) a descoberta, seguida de leitura intensiva, da obra do Karl Kraus ; 2) uma contenda verbal, digamos assim, que tive em plena 5 de Outubro, com o árbitro benfiquista Carlos Valente a propósito de uma daquelas sessões de expropriação que ele praticava vestido de árbitro durante noventa minutos e que esteve para acabar mal para ele e, se calhar, para mim também. Vamos ao Carlos Kraus porque quanto ao Valente, como bem disseram, entre outros, os Heróis do Mar: “dos fracos não reza a história”. Kraus, o judeu de língua alemã que no princípio do século melhor percebeu o que se passava nisso a que se chamava jornalismo e que depois se passou a chamar comunicação social, foi, muito melhor do que o Walter Benjamim, quem entendeu o poder, o perigo, o mal, mas também a maravilha que é a palavra publicada. Judeu, rico, culto, inteligente e com sentido de humor, Kraus ficou conhecido por ser dos melhores a dizer muito com pouco: uma espécie de tweeter antes do tempo, que em 140 caracteres dizia bem aquilo que outros diziam, em geral mal, em 140 páginas. O conceito de opinião pública, por exemplo, tão útil à catrefada de boçais (jornalistas, sondagistas, comentadores, paineleiros, etc.), que gosta de invocar os outros para sustentar aquilo que diz, uma vez que aquilo que diz é tão fraquinho que não se sustenta por si, é um daqueles que Kraus – que usava uns daqueles óculos redondos à John Lennon mas sem aro, só com lentes – desmontou com enorme clareza e lucidez, esclarecendo que tal não passava de uma engenhoca sócio-literária para impor a mediocridade leviana com que a maioria do jornalistas observam aquilo que lhes passa à volta e que, em geral, não entendem. No meu caso, todo e qualquer uso dessa expressão, traduz-se numa vontade de mandar à merda quem a usa. Por outro lado, também dá para perceber a fraqueza intelectual de quem a ela recorre, uma vez que não significa nada, ou melhor, significa apenas a preguiça mental de quem, com duas palavrinhas apenas, quer empacotar aquilo que não consegue entender. Expostas as premissas, tiremos a conclusão: Banarht é uma daquelas construções crítico-jornalísticas; uma colectânea de clichés que tresandam ao hype da moda, um Samuel Úria (ou Fúria? estes hipsters nascem como cogumelos e têm todos nomes assim) a cantar em inglês. De fugir.

Porque é que as pessoas complicam? Tudo isto é tão simples, fazer música incluído. Em 1979, quando Banhart Fachada ainda andava a saltar de colhão em colhão, os Wire, disseram isto: “No solos; no decoration; when the words run out, it stops... keep it to the point; no americanisms.” E editaram isto:



Lindo. Mas nem tudo é fácil. Há questões complicadas. Como esta, por exemplo:


Metáfora? Parábola? Hipérbole? Em frente que atrás vem gente. Mas com cuidadinho...

13 de março de 2013

Fumo negro em Alvalade mas o que me trás cá hoje é a profundidade meta-qualquer coisa da filosofia do José Gil


Continuo em período de reflexão sobre os destinos do Sporting Clube de Portugal. O que significa que o fumo que sai da minha chaminé é negro. Quando concluir alguma coisa, se não sair fumo branco, a causa será provavelmente a necessidade de substituição do filtro do exaustor e não a minha falta de bondade em partilhar convosco as conclusões a que chego.

Lamentando esta minha manhosa introdução, desculpo-me com o facto de hoje, ao contrário do que é costume, ter sido exposto aos primeiros 10 min. de um telejornal televisivo qualquer, onde a torrente de temáticas papianas, especialidade na qual por estes dias são especialistas 50% dos gajos e gajas que sentam a peida nas redacções, ter causado em mim estes efeitos que eu – espero – não tenham consequências de maior relevo. É do caralho esta merda de, num ápice, brotarem especialistas em tudo o que é canteiro e, ainda por cima, gostarem de falar às outras pessoas daquilo que acham que sabem. Escuso dizer que a) a televisão não era minha e b) não havia SportTv. De outro modo teria ocupado esse tempo a ver a equipa de futebol feminino do Barcelona a despachar o AC Milan, depois de ter estado a um poste de ficar fora da Champions.

Vamos ao que motiva esta minha exposição: a entrevista do Filósofo com F maiúsculo José Gil ao DN. Quero começar por dizer que o dito Filósofo com F maiúsculo está bem posicionado para ser o substituto de Agostinho da Silva na função do tontinho kind of-filósofo do regime. A entrevista conduzida por um jornalista desportivo serviu para o Filósofo com F maiúsculo José Gil dar largas a mais uma sessão de psicologia social, barata como é toda a psicologia social, patranha à qual se tem dedicado nos últimos anos e que lhe tem rendido enormes tiragens e múltiplas edições esgotadas dos seus, digamos, livros. Atento, o Filósofo com F maiúsculo José Gil começa por ver nas manifestações recentes um protesto pela “abolição da existência possível das pessoas". Foda-se, ontologia, e da boa. Acusa o PS de preguiça mental. Pois, diz o roto ao nu. E lamenta que o Presidente da República e o Governo estejam a "milhares de léguas da população e da realidade", expressão do mais filosófico que há, ainda por cima tratando-se de um Primeiro Ministro que faz todos os dias o IC 19 e de um Presidente da República que mora num 1º andar com marquise de alumínio na Travessa do Possolo.

É apenas isto: palermice por palermice, achava mais piada ao Agostinho da Silva quando mandava bujardas como aquela em que dizia que o homem nasceu para pensar e o burro para trabalhar. Nem todas parvoíces têm piada. Dei-me ao trabalho de assistir ao vídeo da entrevista até ao fim e... caramba ó Gil, tens que te esforçar mais: ser idiota também dá algum trabalho, não basta ver os telejornais todos e dizer umas merdas sobre o que acontece.