22 de março de 2013

Como é que se diz quando se vota por exclusão de partes? Engolir um sapo, não é?

Os fãs de Devendra Banhart, que já festejavam a minha ausência, podem tirar o cavalinho da chuva: voltei para explicar às pessoas que esse Banhart é uma bela merda, uma merda assim tão merdosa como o B Fachada, e outras merdas do género. Mas vamos começar pelo princípio; sou um gajo organizado.


Os dois factos mais marcantes da minha vida no início da década de 90 foram 1) a descoberta, seguida de leitura intensiva, da obra do Karl Kraus ; 2) uma contenda verbal, digamos assim, que tive em plena 5 de Outubro, com o árbitro benfiquista Carlos Valente a propósito de uma daquelas sessões de expropriação que ele praticava vestido de árbitro durante noventa minutos e que esteve para acabar mal para ele e, se calhar, para mim também. Vamos ao Carlos Kraus porque quanto ao Valente, como bem disseram, entre outros, os Heróis do Mar: “dos fracos não reza a história”. Kraus, o judeu de língua alemã que no princípio do século melhor percebeu o que se passava nisso a que se chamava jornalismo e que depois se passou a chamar comunicação social, foi, muito melhor do que o Walter Benjamim, quem entendeu o poder, o perigo, o mal, mas também a maravilha que é a palavra publicada. Judeu, rico, culto, inteligente e com sentido de humor, Kraus ficou conhecido por ser dos melhores a dizer muito com pouco: uma espécie de tweeter antes do tempo, que em 140 caracteres dizia bem aquilo que outros diziam, em geral mal, em 140 páginas. O conceito de opinião pública, por exemplo, tão útil à catrefada de boçais (jornalistas, sondagistas, comentadores, paineleiros, etc.), que gosta de invocar os outros para sustentar aquilo que diz, uma vez que aquilo que diz é tão fraquinho que não se sustenta por si, é um daqueles que Kraus – que usava uns daqueles óculos redondos à John Lennon mas sem aro, só com lentes – desmontou com enorme clareza e lucidez, esclarecendo que tal não passava de uma engenhoca sócio-literária para impor a mediocridade leviana com que a maioria do jornalistas observam aquilo que lhes passa à volta e que, em geral, não entendem. No meu caso, todo e qualquer uso dessa expressão, traduz-se numa vontade de mandar à merda quem a usa. Por outro lado, também dá para perceber a fraqueza intelectual de quem a ela recorre, uma vez que não significa nada, ou melhor, significa apenas a preguiça mental de quem, com duas palavrinhas apenas, quer empacotar aquilo que não consegue entender. Expostas as premissas, tiremos a conclusão: Banarht é uma daquelas construções crítico-jornalísticas; uma colectânea de clichés que tresandam ao hype da moda, um Samuel Úria (ou Fúria? estes hipsters nascem como cogumelos e têm todos nomes assim) a cantar em inglês. De fugir.

Porque é que as pessoas complicam? Tudo isto é tão simples, fazer música incluído. Em 1979, quando Banhart Fachada ainda andava a saltar de colhão em colhão, os Wire, disseram isto: “No solos; no decoration; when the words run out, it stops... keep it to the point; no americanisms.” E editaram isto:



Lindo. Mas nem tudo é fácil. Há questões complicadas. Como esta, por exemplo:


Metáfora? Parábola? Hipérbole? Em frente que atrás vem gente. Mas com cuidadinho...

3 comentários:

  1. o Klaus é o Loos dessas outras coisas...
    não li mais que umas linhas mas sei que gosto
    do que eu não gosto (sem acrimónia) é dos 3 por cento
    gostava de o ler sobre,

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  2. sapos :) só os engole quem quer :)
    trabalho para casa :) vou ler o karl klaus :) gosto dos óculos dele :)

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