25 de março de 2013

O problema do recurso a clichés para fugir aos clichés (ensaio em 705 palavras)


Só um uma pessoa – provavelmente benfiquista, mas isso pouco importa - que não entende o que é o Sporting poderia ter escrito isto. Não é que o texto do maradona seja um ponto alto do comentarismo futeboleiro, ainda por cima tratando-se de um ensaísta como o maradona que já foi capaz de escrever merdas muito, mas muito mais bem esgalhadas sobre o tema. Numa tentativa de filosofar sobre a desgraça alheia (sim, nós sabemos que estamos mesmo muito mal), alf, um excelente ensaísta de cultura e até de cóltura, mas que não vai além de mediano em matéria de bola, prenda-nos com um texto exemplarmente povoado daquilo que ele pretende apontar aos outros e que eu, numa generalização abusiva, tipicamente característica do filósofo arrogante que sou, definiria como, “passar ao lado daquilo que mais interessa”. Para tal tarefa, resolve povoar o seu ensaio de banalidades de oficina ou de cabeleireiro, consoante o sexo do interveniente, a saber: que o Sporting é dos viscondes, que é de malta que habita o eixo Estoril-Guincho, que jogam golfe, e que descobriram um Messias na pessoa do empresário Bruno de Carvalho, onde nem faltou a originalíssima fotografia do leão a dormir. Enfim, a lenga-lenga do costume. Mas isso até é o menos importante, embora seja tudo mentira, à excepção do golfe: aí sim, os meus muitos anos de golfe certificam - para conforto intelectual do alf (que não é por mim que verá desfeita a sua sólida imagem deste desporto) - que usamos todos cartola, fumamos charuto e limpamos o cú a notas de 20€... mais um que não faz puto de ideia do que é o mais belo dos desportos. Também passo ao lado das citações do Kundera, que li e abandonei a meio, e do Rosseau, o mais angélico dos franceses, cujas generalidades só por obrigação acabei por ler.

O que importa é que o alf não entendeu porque é que 50 e tal por cento dos sócios do Sporting votaram no Bruno de Carvalho, uma vez que caricaturiza esses mesmos votantes, na pessoa do maradona, como se essa escolha do Bruno de Carvalho tivesse sido motivada pela crença quase religiosa de que ele poderá transformar o Sporting perdedor num Sporting ganhador como o FC Porto (o Benfica é quase tão perdedor e mais devedor do que o Sporting, mas deixá-los que eles andam todos contentes), apenas com um estalar de dedos. Ou será que os 30 gajos que apareceram na TV a gritar “allez, Bruno allez” com tochas verdes, mais o quase-lacrimejante texto do maradona, na análise do alf, simbolizam os 53% que votaram no Bruno de Carvalho?

Como votante do Bruno de Carvalho, informo-te que não foi nada disso que disseste, que me levou a votar nele. Os que conhecem a minha obra literária, bem como os que me conhecem pessoalmente, sabem que me custou pa caralho votar naquele gajo. E conheço mais uns quantos sócios do Sporting que partilham daquilo que te estou a dizer. Peço desculpa por te estragar a argumentação mas olha, é a verdade – aquilo que tu procuras, como dizes no teu header.

Facto: os sócios do Sporting tinham que escolher, é para isso que servem as eleições, e essa escolha tinha que ser feita, não havendo lugar a abstenções porque alguém iria ser eleito. Os sócios do Sporting disseram que não queriam o mesmo prato que lhes é servido há 17 anos. Demos um salto no escuro? Vamos aguardar... De outro modo teríamos dado, não um, mas uns 20 ou 30, e não era nos escuro, era no abismo, porque no escuro já nós estamos. Mais do mesmo, outra vez? Não. Foi isto que os sócios do Sporting disseram. Agora, é dar tempo ao tempo. Isto no futebol muda mais depressa do que se julga, há muito pela frente e, entre outras coisas, ainda podemos ir foder o campeonato ao Benfica (já não era a primeira vez).

Quanto a outros assuntos com importância para a humanidade em geral, como este, registo aqui a minha satisfação pelo regresso do Tiger (outro a quem já tinham feito não sei quantos funerais) ao nº 1 mundial. O desporto é tramado, sobretudo para quem tem as ideias muito arrumadinhas nas gavetas dentro da tola.

4 comentários:

  1. O tempo, sempre o tempo (um cliché:).

    Os benfiquistas são mais espavilados e reconhecem nele algo de outro :)

    dá-me vontade de rir o povo não ver o lobo debaixo da pele de cordeiro .

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    1. Querias dizer "o povo não ver o lobo debaixo da pele de Couceiro" e saiu gralha. Freud explica.

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  2. desejo, ardentemente, que o sportém seja bom de cama

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    1. Por falar em ardentemente, este ano voltam a enfiar a Juve na "caixa de segurança"?

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