31 de outubro de 2012

As saudades que eu já tinha de uma boa querela futebolístico-literária

Sendo eu uma autoridade em matéria de literatura e de futebolistas universalmente conhecidos pela sua inaptidão para se colocarem perante umas misteriosas máquinas que, à época, ainda nos obrigavam a esperar uma semana até podermos ver o resultado do disparo, tenho a declarar ao alf, aos amigos do alf e às gajas que lhe lêem o blog, que devem ser mais ou menos as mesmas que me lêem a mim, porque elas topam a milhas que a virilidade se revela em matéria literária, facto que eu tive oportunidade de atestar há muitos anos quando um professor de Português mandou umas piadas a um escritor meu parente afastado e eu armei um granel na aula que me valeu uma suspensão de um dia mas com a honra da família bem defendida. Dizia eu, tenho a declarar que é com arrogante certeza que classifico a obra do Lobo Antunes como fraquinha e o Vítor Paneira como um centro campista muito aquém do seu mais ou menos contemporâneo António Oliveira, esse mesmo, o Oliveirinha que um dia disse que às vezes "tinha vontade de pegar numa G3 e foder 4 ou 5", frase que só não alcançou mais notoriedade nos meandros técnico-tácticos da literatura por ter sido dita em off, que é quando os jornalistas dizem às pessoas que elas podem revelar o que lhes apetece porque eles não irão publicar o nome delas.


Na minha adolescência, nos intervalos de jogar golfe, de levar tampas de algumas miúdas e de andar pelas ruas da cidade a fazer percursos de turismo cultural com a Juve Leo, dediquei-me a uma tarefa enriquecedora da minha personalidade, sobretudo a nível técnico, que consistiu na leitura quase integral das obras de Vergílio Ferreira e de Ruben A. Passo ao lado dessa treta da coincidência com o alf: estou quase certo que o que me levou a ler bastante Vergílio Ferreira não deve ter sido o mesmo que levou o alf a isso e, se foi, que se lixe, porque essa coincidência é mais do foro daquelas gajas que perdem tempo com esses métodos de associação livre, psicologia ou sociologia, acho que é o nome que elas dão a essas merdas. Pois bem, essas minhas ocupações não me deixaram tempo livre para me inteirar da obra de Lobo Antunes, tendo apenas lido Os Cus de Judas, livro que passou pela minha vida com a mesma irrelevância com que o Peter Eskilsson passou pelo Sporting nessa mesma década.


Mas é para ocasiões como esta que os nossos skills interpretativos servem: essa obra antuniana, sendo ainda do seu período de juventude, que eu traduziria como a época em que o gajo andava a disparar para muitos sítios para ver se acertava nalguma coisa, é uma obra que já revelava aquilo que o autor viria a ser na maturidade: um gajo que tem alguns bons títulos mas que escreve maus livros. Creio que o facto de a minha argumentação sobre a pouca qualidade da obra antuniana ser escassa, é motivo suficiente para encerrar o assunto a meu favor: só argumenta muito quem não está certo das suas razões.

Sobre o Vítor Paneira recorro ao meu eficiente 4-4-2 que consiste no fundo em não dar relevância aos argumentos dos outros mas sempre com um dos centrais um pouco mais avançado a servir como uma espécie de trinco. Como estou extremamente bem disposto com a humanidade derivado a..., contesto ainda mais um dos postulados do ensaio alfiano, nomeadamente aquele ponto em que ele atira com aquela jigajoga dos passos à frente e atrás e mistura Platão com S. Agostinho e Rousseau. Pois bem, de acordo que depois de Platão pouco se avançou – não sei bem para onde mas isso agora não interessa – mas fosga-se, falar nesse pateta do Rousseau como um dos que deu um saltinho... não lembra ao careca, caralho, e com esta não te empertigues porque eu nem sei se tens cabelo ou não. S. Agostinho ainda dou de barato, agora o Rousseau, vai-te catar. Percebo que não queiras por aí na lista um alemão, mas trata de arranjar outro porque esse francês idealista e um bocadinho choné, não convence. Se queres saber a minha opinião (e eu acho que queres), eu punha o Hegel, não por ter um corte de cabelo parecido com o da Ana Sá Lopes, mas porque sim. E o espalha-brasas do Nietzsche também ficaria bem nesse retrato, mas tudo bem, essa espécie de ranking não me diz muito e por isso não vou queimar aqui os meus cartuchos.


E é de propósito que deixo para o fim o plot, a afirmação indesmentível, o aforismo incontestável, a frase lapidar: o Ruben A. é o melhor escritor português do séc. XX. Afirma o Capt. Paddock e tal facto não merece contestação. Ainda assim, se alguém se sentir motivado, por desconhecimento ou falta de auto-estima, a contestar este meu decreto, digo-vos que arranjo tempo para um duelo. A marcação do campo e as testemunhas ficam por conta do desafiador. E à bengalada, não só como homenagem ao Eça, mas também porque nunca me ajeitei muito bem com armas de fogo.

7 comentários:

  1. Gosto de espalha brasas (Nietzsche inclusive)
    Ainda vou no Eça e é a prova que era um ser insubstituível passou mais de um século e o seu lugar mantem-se vazio.
    Não conhecia o R.A o que não é de admirar numa gaja* que só lê o capitão paddock:)
    Mas ou é da minha vista ainda não se acabou a pista, irei lê-lo (obrigada pelo link).
    O ALA li o suficiente para não voltar a pegar nele:)
    Do Rousseau aprendi qualquer coisa, ficou-me a vontade de viajar a pé e tentar viver às custas de alguém o que não é fácil na prática, reconheço:)))
    Quanto aos jogadores sou do tempo em que se gritava morte ao arbitro algo hoje completamente ultrapassado agora negoceia-se.

    *Sou uma gaja porreira :) e nada me ofende.

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    1. Imperdível, minha cara Silvia, não conhecer a obra do Ruben A. Mas a vida é um work-in-progess, é sempre possível começar.

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    2. Vou de lacuna em lacuna sem perder o entusiasmo :)
      Sou capaz de seguir o seu conselho e começar pelo caranguejo :)

      mas fiquei de olho na obra sobre o D.Pedro V.

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  2. Não acredito que só ainda cá tenha vindo a simpática silvia...

    Capt. por qual livro devo começar o tal Ruben A ?!
    muito obrigada

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    1. Pode ser pelo 'Caranguejo' que dá numa espécie de leitura ao contrário e que o próprio Ruben A. chamou de exercício de arquitectura literária.

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