22 de fevereiro de 2013

A revolução é uma comichão: um gajo coça e ela passa



Foi com este aforismo que terminei o último texto da minha opus, aforismo que me veio à cabeça enquanto andava perdido no Continente à procura dos iogurtes gregos da Danone, que os senhores repositores fazem o favor de mudar constantemente de prateleira, creio eu, só para me fazerem perder tempo a procurá-los, tempo esse, como sabeis, fundamental para que eu me possa dedicar às artes, às letras, ao pensamento e aos problemas do Sporting.

A adaptação à mudança demora sempre menos do que aquilo que julgamos, quando ela se nos atravessa pela frente. Tenho isso como adquirido, mas mesmo assim não gosto de mudanças. É preferível conservar do que mudar. E é por isso que eu volto a afirmar uma certeza – das poucas que tenho, mas eu nunca fui muito dado a certezas – desde os tempos em que ainda achava que o mundo das ideias não iria ter o privilégio de me ter como contribuinte, derivado ao facto de estar à minha espera uma brilhante carreira internacional de golfista. Vai não vai, o que aconteceu foi que os meus planos foram alterados e por aqui fiquei: perdeu o golfe, ganhou a filosofia e eu, olhem, nem tenho muita razão de queixa: as miúdas, sempre que lhes digo que sou filósofo, acham o máximo, por isso, tudo bem... prossigamos. A certeza que tenho é a de que as coisas não se medem aos palmos.

O Tolan, um bom bloguista, razoável ensaísta e futuro excelente pai, surpreendeu a comunidade intelectual à qual me esforço por não pertencer, com uma daquelas ideias das quais ninguém estava à espera, vinda de onde veio. Refiro-me ao argumento da quantidade para corroborar a qualidade, o interesse, a pertinência, tanto faz, da obra de um artista. Como quem espeta um ás de paus em cima da mesa, fazendo os ossos dos dedos propositadamente bater na madeira para se ouvir o barulho, o Tolan atirou com 1599999 de visitantes mais a Maria Antonieta (que também desceu ao rés-do-chão para ver os fatinhos de renda da artista), como mais um cavaco para a fogueira da legitimação, ou como lhe queiram chamar, da arte da Vasconcelos. Chegámos então ao problema: o Tolan, aquele correligionário que nos habituou a uma irrepreensível determinação em não se deixar distrair pelo foguetório marqueteirójornalístico (carnaval onde o número de vendas vem sempre à laia), afinal também olha para o tamanho, neste caso, para o número de entradas vendidas, bilhética, como se chama. Ora... ter que vir dizer ao Tolan para não confundir a foda com o tamanho da pila, não estava nos meus planos, caramba. Se a Vasconcelos teve 1599999 de visitantes mais a Maria Antonieta, porreiro para ela (para a Vasconcelos, quanto à Antonieta não sei). Esse número vale o mesmo que o número de livros vendidos daquela merda do Grey ou lá que é; vale o mesmo que o número de gajos que viram aquele atrasadinho coreano a estrebuchar no youtube ou o número de números que os One Direction, uma banda de bois que vem a Portugal tocar e cuja música eu próprio, numa saudável manifestação de ignorância, desconheço, tem para mostrar como trunfo. Esta coisa de avaliar a virilidade medindo quem cospe até mais longe é um terreno pantanoso, suficientemente pantanoso para não nos querermos meter lá. Porque já vimos que todos os que o arriscaram se sujaram muito e não ganharam nada com isso. Das últimas coisas a ir buscar quando se quer defender / justificar / legitimar / valorizar (riscar o que não interessa) a arte, é o número de vendas, assim como nós os brancos afirmamos que o tamanho da picha não quer dizer nada sempre que elas, entre risinhos aparvalhados, dizem que têm uma amiga que andou com um preto e que sim, que lhes confirmou a cena.

O problema, o grande problema, diria mesmo, é que a humanidade mede muito, mede cada vez mais, e com cada vez mais certeza, mas essas merdas que medimos, todas bem arrumadinhas num excel, não nos dizem nada sobre aquilo que queremos realmente saber. E por isso continuamos a tirar medidas. Não sei se me fiz entender... se não fiz, tenham paciência: não vou voltar a este assunto porque vou iniciar um período de reflexão sobre um acto eleitoral de extrema importância que se vai realizar no dia 23 de Março. Até lá, só gestão corrente.



depois de escrito (post-scriptum, em latim): já depois de ter escrito isto, reparei que o alf também deu uma cacetada no Tolan. Da minha parte, está tudo ok: se me dei ao trabalho de redigir estas merdas é porque acho que o Tolan precisa (e merece) de orientação espiritual.

4 comentários:

  1. Ainda bem que achas que o tolan merece e precisa de orientação. O que eu registo é que não há qualquer problema da tua parte (ou do alf) em atribuir-me um argumento tão imbecil como o da qualidade = quantidade e perder tempo com isso. Meu Deus... Eu separei, no meu post, a minha apreciação pessoal, do número de visitantes. E só o escrevi porque na porrada desproporcional que lhe deram (eu nunca liguei puto à JVC antes, só a achava engraçada) nunca faltaram as referências a ser um embuste à custa disto ou daquilo, de apoios do estado ou da opção de curadores ou cunhas ou seja o que for. E foi nesse contexto que surgiu a referência ao número de visitantes. Naquele campeonato - uma das mais superficiais formas de arte que existe - o impacto é relevante e o sucesso de visitas ou de polémica / notoriedade é uma das medidas objectivas para avaliar o gasto de dinheiros públicos. Do mesmo modo que o sucesso ou insucesso da organização de um Europeu de Futebol se pode medir por indicadores objectivos ou uma campanha de promoção do turismo. Temos pena, mas é assim e tomara que o investimento público de promoção de Portugal tivesse aquele género de eficácia e pertinência. Porque sim, precisas sempre de números para abrir portas. Podes não gostar dos Nirvanas, mas é graças a eles que muito mais pessoas conhecem os Sonic Youths e os Pixies desta vida. Comecei logo no meu post por dizer que há naquele tipo de arte uma componente de marketing e hype que não foge a territórios como o da pop mainstream ou da publicidade. O urinol do Duchamp é o quê, se não uma grande ideia publicitária? As latas de sopa de tomate do Warhol? Não estou a querer (longe disso) comparar a dimensão, relevância, intencionalidade, etc. etc. destes artistas com a JVC. Só estou a dizer que a apreciação dessas coisas deve ter isto em conta. E repara, volto a sublinhar, que faço o post em reacção a posts que, esses sim, atribuiram importância ao 1,6 milhões de visitantes e que surgiram em função do sucesso dela! Aliás, só soube da exposição da JVC graças a posts como o teu e do ressabiator etc. Não fui que espontaneamente fui fazer um post a dizer "a JVC é bestial, teve 1,6 milhões de visitantes". Capisce?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não, claro que não percebi. Falas de coisas muito densas para a minha exígua compreensão.

      Se o argumento da quantidade=qualidade é imbecil ou não, não sei. Como nunca o aplico, não faço ideia do enquadramento teórico em que deve ser usado.

      Não basta dizer que se separa, é preciso separar mesmo. Foste tu que falaste dos milhões. Eu apenas te disse que os milhões são um aspecto tão lateral, que só deviam surgir mesmo numa nota de rodapé e pouco mais, uma vez que não interessam nada para o assunto em causa, pelo menos aquele de que estou a falar desde o início, a saber: a campanha de marketing – que não tem nada a ver com o interesse / qualidade / valor (riscar o que não interessa) da obra - financiada pelo estado português de modo fazer crer às pessoas que aconteceu qualquer coisa que, afinal, é capaz de não ter acontecido como se pinta por aí. Já agora, para te dar uma dica, mas sem adiantar muito, há um ex-futebolista, formado nas escolas do melhor clube do mundo e que tem nome de fruto, que está a responder em tribunal por uma situação parecida (parecida, claro, porque estas coisas nunca são exactamente iguais).

      Pois bem, o interesse da obra da Vasconcelos, vamos lá. Foste tu que falaste nele e trata-se de uma questão de juízo de gosto. A ti agrada-te, estás no teu direito. A mim não me agrada nem me desagrada, é-me absolutamente indiferente e também estou no meu direito: interessa-me tanto como os postes de iluminação do IC19, ou seja, nada. Mas gosto em matéria de artes plásticas não é o assunto que está em causa. Isso é para aqueles blogs de merda dos quais nem tu (creio), nem eu gostamos.

      Da mega-exposição de Versailles saltas para o Euro de futebol. Ok, o sucesso pode ser medido com indicadores objectivos... desde que se diga quais são. E não creio que o Euro 2004 – será que era desse que falavas? – permita um balanço assim tão positivo. Mas teríamos que enunciar os pontos em concreto e, quanto a mim, é assunto que não me interessa agora discutir. Hoje, limito-me apenas a um sorriso cínico sobre o assunto, uma vez que fui, desde sempre, desfavorável à organização desse evento em Portugal, como os que me conhecem dessa altura sabem.

      Da tua extrapolação para a música não vou falar: hoje é sábado e não gosto de falar de trabalho aos fins de semana.

      Votos de que tudo esteja a correr bem com a barriguinha da Plaft, é o meu sincero desejo. Quando souberes se é menino, menina ou casal de gémeos, avisa. Abç. Paddock.

      Eliminar
  2. 1599997 *
    o costa da capital e o mano da nacional tortas na inauguração da exp. no "palácio" devem contar...
    para alguma coisa...

    * nestas coisas do golfe há que ser rigoroso

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Com esses até é fácil fazer as contas. Mais complicado é com a catrefada de autocarros cheios de japoneses que foram descarregados para visitar o palácio e também contam para a estatística do "sucesso da arte portuguesa em França".

      Eliminar