5 de janeiro de 2013

A minha mãe disse-me para eu fazer as coisas e não me meter com o Major Tom: variações sobre uma noite em que um DJ me fodeu a vida




Enquanto os pensadores continuam à volta das voltas da vida, eu estou no meu canto com um copo de gin (Bombay Sapphire, quatro cubos de gelo, meio de gin, meio de água tónica e meia rodela de limão) a divertir-me com as voltas que eles dão. O Público, jornal modernaço, resolveu criar um think tank sobre Portugal e a crise, colocando a seguinte pergunta, “Que sociedade será, a sociedade portuguesa e europeia em 2013?” a um conjunto de 13 pensadores. Vamos por partes que isto não está fácil. Os que conhecem a minha obra, ou a do Wittgenstein, por exemplo, sabem que a resposta à pergunta: “Pode uma má pergunta ser respondida?” é negativa. E creio que não é preciso ter estudado em Cambridge para entender isto. Há perguntas que implicam (necessidade lógica) que qualquer resposta que lhes seja dada estupidifique a resposta, distribuindo o ónus da estupidez por quem pergunta e também por quem responde. Certo dia, uma colega de faculdade, só porque eu trazia um livro que não era “de estudo”, perguntou-me “gostas muito de cultura, não gostas?” pergunta que me serviu para colocar em prática o meu wittgensteinianismo, ficando em total silêncio perante o sorriso ingénuo da miúda que achava que estava a ter um acto de simpatia, querendo fazer conversa daquilo que eu andava a ler. Pois o Público começa mal porque lança uma má pergunta, daquelas a que a única resposta inteligente é não responder. Nem me estou a referir ao facto de gramaticalmente estar incorrecta: meter a vírgula entre o “será” e o “a” é abaixo de quarta classe e só serve para confirmar a indigência mental destes organizadores de think-thanks, versão jornaleira. Depois vem o perfil dos entrevistados. Após cuidada análise dos CV daqueles 13 eleitos – vejam o simbolismo do número treze, jasus, como naquelas redacções aquela gente reflecte com tanta profundidade – constata-se que aquilo não é um tanque, é um lagar. E não é de pensamentos, é de azeite, dado o perfil de azeiteiros da maioria dos ditos pensadores. Gajos que gastaram tempo precioso das suas vidinhas para nos ofertarem os seus pensamentos, esforçando-se desse modo por mostrar a luz a estes simples e simplórios indígenas que, de luz, nem querem ouvir falar, dado o trauma em que ficaram da última vez que viram a factura da EDP, uma empresa que, ao que consta, ainda não tem a maioria do capital na posse da filha do Eduardo dos Santos. O problema não é o que se diz, é o que não se diz: bastava que muitos dos palradores dos meios de comunicação soubessem estar calados para que o mundo fosse um local mais aprazível, com os rios menos poluídos, os prados verdejantes, os passarinhos a cantar alegremente e a dívida pública a não aumentar. Não duvidem. A propósito daquilo que não se deve fazer, vou contar um episódio que se passou comigo e que revela como eu devia ter estado quieto. Estava num desses locais onde as pessoas costumam ir à noite beber, dançar, engatar, etc. com um grupo de malta onde estava uma miúda bem gira com a qual tinha estado a falar. E eis que o DJ se lembra de passar esta música



que, dado o adiantado da hora, a quantidade de bebidas (com álcool) que eu já tinha ingerido e o meu enorme gosto pela música em causa, me fez ir para a pista dançar (mais ou menos como o próprio Julian Cope dança neste teledisco). Dado o facto de dançar ser uma das poucas actividades que eu não consigo praticar com brilhantismo, devo ter feito uma daquelas figuras pouco edificantes que me custou uma vincada indiferença e uma despedida sem troca de telefone, por parte da dita miúda. Que é que um gajo faz nestas alturas? Não posso ir para uma discoteca com um taco de golfe fazer uns swings para impressionar – quem me dera -, por isso lá tive que dançar e arruinar os meus planos. O que, resumindo mas ainda não concluindo, revelou que eu devia era ter estado calado, ou melhor, quieto, de copo na mão que é o que eu sei fazer numa discoteca. Voltando ao tema do lagar de azeite dos pensadores do Público, agora para concluir, que eu vou a Alvalade ver o Sporting (sim, eu sei, eu sei, até a minha mãe me tem ligado a insistir, mas que é que querem? não consigo resistir, sou eu que não consigo resistir e são eles que não conseguem jogar, mas olha, foda-se, não dizem que a banda do Titanic continuou a tocar enquanto aquela merda afundava?) Pois aquele lagar de azeite pensado só tem uma utilidade: lermos com muita atenção as pérolas dos 13 pensadores para ver se nos divertimos um pouco: ver os outros a fazer figuras tristes ou a dizerem parvoíces amanhadas à pressa só para armarem em intelectuais profundos, ainda é uma coisa que nos faz rir. Pelo menos a mim, que sou um bocadinho wittgensteiniano.

15 comentários:

  1. eh eh
    a esta posta, para a perfeição, só ficou a faltar esta:
    http://www.youtube.com/watch?v=mS5CnPOrXZ8

    (gin com pepino nunca provei)

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  2. heheheheh meio de Gin e meio de água isso é dose :)

    Pois a vida é mesmo engraçada e no meio de tanto desencontro há encontros fantásticos:) então não é que há pouco cruzei-me na rua com o escritor Almeida Faria (thanks ):)

    Quanto a não saber dançar não é grave :) se tem um bom swing basta segui-lo na pista de dança (pensava que não gostava de tubes).

    quanto a este Ano de 2013 vai tudo correr bem :)

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    1. co-incidências ou casualidades:)
      ontem depois de falar com o autor do murmurio do mundo :)
      quando liguei a Tv,um programa de culinátia do Nordeste na Índia
      chego aqui
      e
      Bombay gin :)
      hoje vi um navio que se chamava marajah :)
      heheheheh

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    2. maharaj (assim é que é :)penso que tinha acentos algures nos ã
      heheheh

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    3. Falaste com o Almeida Faria? Conheço-o pessoalmente, é um cavalheiro.

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    4. Falei :)
      continuando com as casualidades lanchei em casa de um amigo que o conhece também :)
      confirma-se um cavalheiro :)

      fiquei a saber que é um apreciador do Bob Wilson :)
      continuando;) conheci este meu amigo exactamente devido a um indiano (numa história trivial mas hilariante )


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    5. Oh!
      Porque não foi comigo teria lhe perguntado uma data de coisas:)

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  3. Capt. :)
    se quiser passar a mensagem ao A.F diga que o tal ainda vive :)))

    muito obrigada :)

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  4. Capt.
    Ora aqui está :) uma boa razão para falares :)

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    1. Acasos da vida: desde que se reformou nunca mais o encontrei.

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  5. hahahaha
    esforça-te um bocadinho :) e procura-o :)
    não me digas que és timído :)
    pareceu-me que o AF lida bem com os acasos :)

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